II Encontro de Artes, Ecologia e RuralidadesTeve lugar nos dias 24, 25 e 26 de Julho de 2020 na aldeia do Campo Gerês, na Serra do Gerês, que se integra na Reserva da Biosfera da UNESCO. A temática deste encontro abordou a relação criativa entre as artes, a ecologia e as ruralidades, com os saberes, lugares e comunidades locais, com o propósito de valorizar a herança cultural e natural da Serra do Gerês.
A programação do evento Rural Vivo! iniciou-se em meados de Junho com quatro residências artísticas, e culminou neste encontro de três dias, cruzando as artes com outras áreas de conhecimento como a etnografia, a antropologia, o artesanato, a biologia, a botânica, a agricultura, a educação, a sociologia e os saberes locais. Nesta edição, os quatro artistas em residência foram Bruno Caracol, Lavoisier, Maria João Ferreira e Mónica Baptista. Aos artistas em residência pediu-se que desenvolvessem criações relacionadas com a temática específica do evento. Pretende-se incentivar processos criativos ligados ao meio rural da Serra do Gerês, que possam valorizar e articular harmonicamente os saberes locais e a herança natural e cultural que caracteriza esta Serra, juntamente com as ferramentas criativas de hoje. O resultado das residências foi partilhado durante o evento Rural Vivo! II Encontro de Artes, Ecologia e Ruralidades. Nos três dias do Encontro foram programadas uma variedade de atividades que incluem: cantares polifónicos, performances, música experimental, dança, teatro, pintura, fotografia, vídeo, artes manuais e ofícios artesanais, caminhadas, conversas, instalações sonoras, instalações media art e land art. Contamos com a presença de artesãos de ofícios antigos, alguns esquecidos e outros que hoje estão a ser revalorizados, como a arte do linho, do pão, do couro, da alimentação silvestre, da herbolária, do macramé com fibras, das tintas naturais, das máscaras. Nas oficinas, os artesãos demonstraram como se transformam as matérias primas, de forma tradicional e manual, nas quais se pode participar e experimentar os processos criativos com as nossas próprias mãos. Numa série de conversas abordamos o sentido da “Resiliência das Comunidades Rurais”, de forma a provocar uma reflexão sobre a situação atual do mundo rural, o que significa morar numa região de montanha. Procuramos questionar a comunidade local sobre quais serão as futuras possibilidades de pensar e viver o rural, e as formas de sobrevivência e resiliência que poderão reverter o êxodo rural e a desertificação nas zonas altas ou isoladas da Serra do Gerês. Com este programa, a nossa vontade foi de dinamizar cruzamentos artísticos e disponibilizar ferramentas e experiências criativas às comunidades locais e visitantes, com relação direta ao contexto local da Serra do Gerês. Queremos assim contribuir para uma resiliência rural, pela valorização e o desenvolvimento artístico e ecológico de todas as gerações que vivem no meio rural da Serra do Gerês, com ênfase particular nas crianças e nos jovens. Todas as atividades do Rural Vivo! foram de livre acesso. Em breve publicaremos a documentação audiovisual de todo o Encontro. Rural Vivo! II Encontro de Artes, Ecologia e Ruralidades foi uma ação promovida pela Associação Cultural Rural Vivo com o Apoio à Programação e Desenvolvimento de Públicos da Direção Geral das Artes, e apoios de: Junta de Freguesia do Campo do Gerês, Município de Terras de Bouro, Associação dos Compartes do Campo do Gerês, Padaria Pão da Terra, Albergaria Stop, Café da Geira, Casa Redonda - turismo rural, Parque de Campismo de Cerdeira, Pousada da Juventude do Gerês. |
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PARTICIPANTES
ARTISTAS EM RESIDÊNCIA
Bruno Caracol
Quando a Matilha Cerca o Fogo
O medo. Do escuro, do desconhecido. Do que não se vê, do que quase se vê. Subir à montanha, passar quatro dias e quatro noites sem comer nem beber para procurar a visão - ver o quê? Rodar os olhos de forma coreografada, um exercício para curar o astigmatismo. Ver melhor, ver no escuro. Uma multidão escondida nos montes, atrás de arbustos e pedras, à espera do sinal. Ver e não ser visto, uma tarefa colectiva. Os lobos passam, soam cornetas, paus e gritos. Juntos somos os montes a levantarem-se. Os lobos correm, e nós atrás, o fundo do poço escondido nas ervas. Bruno Caracol (1980). Artista e investigador baseado em Lisboa, em 2019 foi residente no Lugar a Dudas, em Cali, Colômbia e em Can Serrat, Barcelona. Em 2018 participou do Linha de Fuga em Coimbra, do Shocklab, Loulé, da Floating University, Berlim e do A_Salto, Elvas. Em 2017 completou um mestrado em Ciências da Comunicação na FCSH-NOVA, em torno à construção moderna da ideia de “natureza selvagem”; Entre 2009 e 2011 colaborou com o Capacete, no Rio de Janeiro, participou no programa de exposições do CCSP, em São Paulo; com Maria Moreira e Marcelo Wasem organizou “Jogos de Escuta”, evento sobre colectivos de artistas. https://cargocollective.com/brunocaracol/ Lavoisier com as Cantadeiras de São João do Campo |
Umas das razões que levaram ao nascer dos Lavoisier foi a descoberta das recolhas etno-musicais de Michel Giacometti. A riqueza polifónica das vozes deste país, através de canções regionais de trabalho, costumes e hábitos do quotidiano, levaram a que Patrícia Relvas e Roberto Afonso se encontrassem com as próprias raízes. Num espetáculo colaborativo com as singulares Cantadeiras de São João do Campo, construído em contexto de residência artística, os Lavoisier, considerados como um dos mais importantes nomes da música portuguesa da última década, apresentam canções suas, do grupo polifónico e de outros nomes da história da música tradicional e de intervenção portuguesa. Patrícia Relvas e Roberto Afonso formaram os Lavoisier em 2012 com o objetivo de explorar as raízes tradicionais da música portuguesa através de uma guitarra elétrica e duas vozes. Desde então editaram já três álbuns – “Miguel Torga por Lavoisier: Viagem a um Reino Maravilhoso” (Armoniz, 2019), “É Teu” (2017) e “Projeto 675” (2014) – e atuaram nos mais diversos festivais e salas de espetáculos dentro e fora de Portugal, conquistando a atenção da imprensa e público pelas intensas prestações em palco. www.whoislavoisier.com Maria João Ferreira " EQUUS " |
Os garranos são uma raça autóctone portuguesa de equídeos pertencentes à família Equus Caballus, nativa da península ibérica há cerca de 1 milhão de anos. Andam "ao feirio" assilvestrados pelas serras que circundam o Campo do Gerês (Peneda, Soajo, Serra Amarela...). São cavalos rústicos b em adaptados aos caminhos de montanha e foram utilizados como correio e transporte de carga a dorso com os seus andamentos rápidos e cómodos. De pequena estatura, cor castanha, membros robustos e curtos, perfil côncavo e pescoço grosso adornado por uma densa crina o Garrano é provavelmente um representante longínquo da fauna glacial do fim do paleolítico (in ecotura.pt). As especificidades das características zoomórficas e dinâmicas comportamentais do garrano estarão relacionadas com o isolamento do seu habitat de montanha, bem como a sua criação em liberdade, com escassa influência humana. Deste modo, a seleção natural permitiu-lhe aprimorar uma excecional adaptação e integração nos ecossistemas de montanha. (www.acerg.pt)
EQUUS é um ensaio flamenco aberto: exercício de experimentação coreográfica inspirada na motricidade do cavalo enquanto força anímica do baile flamenco. É uma pesquisa performativa das possíveis dimensões simbólicas e poéticas que o Garrano representa através da procura de um "duende" livre e selvagem. Maria João Ferreira iniciou o seu percurso académico com o teatro, dedicando-se depois especificamente ao teatro de rua, sob o conceito de Site Specific, e ao teatro comunitário, incluindo a dança aérea (lençol vertical e escalada em espaços urbanos) com companhias como Odin Teatret, Compagnie Doedel, Les Cacahuètes, Sexta 13... A sua área de interesse é vasta, sendo a performance a síntese de toda a interdisciplinaridade que procura (butoh, teatro físico, clown, dança contemporânea, danças ciganas, técnicas circenses, etc) . Pertence à rede internacional de Danza Duende onde aprofunda todos os aspectos relacionados com a dança numa visão mais integral e autêntica. Actualmente a dança flamenca e os estudos artísticos são o foco da sua formação, dedicando-se a experimentar e aplicar novas fórmulas a velhos conceitos. Agradecimentos: Manual d´Apresentação, Miguel Pipa, Equicampo Mónica Baptista " Hypericon ou além da imagem " |
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Durante a minha residência no Campo do Gerês, andei à volta das plantas que crescem junto à aldeia. Pelos caminhos, junto às hortas ou habitações podem ser encontradas inúmeras plantas espontâneas, muitas comestíveis e outras conhecidas e usadas pelas suas propriedades medicinais, como as malvas, urtigas, milefólio, camomila, alecrim...
Como o início da minha investigação coincidiu com o dia de S. João, as minhas atenções acabaram por recair sobretudo no hipericão (também conhecida como erva de S. João) usada nesta data, em inúmeras tradições ao longo da história quando se dá a floração amarelo vivo. Procurei também, a par do interesse por esta planta, explorar as suas propriedades fitoquímicas para revelar película e imprimir sobre superfícies fotosensíveis (papel e película de cinema) utilizando as propriedades químicas inerentes à planta como agente revelador. Os químicos normalmente usados na fotografia e cinema analógico foram, assim, substituídos por processos de revelação ecológicos. Formada em Artes Plásticas-Pintura pela faculdade de Belas-Artes do Porto. Desenvolve trabalho na área da fotografia, vídeo, cinema documental e experimental. Pitões das Júnias (Trás-os-Montes) tem sido um lugar gestacional para o desenvolvimento do seu trabalho, assim como contextos cíclicos de viagem e a frequência de residências artísticas das quais se destacam, ZDB - Lisboa, Location One - Nova Iorque, Crater Lab - Barcelona, Atelier 105 - Light Cone - Paris e LEC - na Cidade do México. O seu trabalho tem sido exibido em Portugal e internacionalmente, em galerias e festivais de cinema. Colaborou em performances de cinema expandido com os músicos Robert Aiki Lowe (aka Lichens), Pedro Burmester e João Pais Filipe. Da sua filmografia fazem parte Água Forte (2018), Cem Raios t’Abram (co-realização, 2015), Teares (2014), Diário (2010) prémio BES Revelação - exibido no Museu de Serralves e o documentário Territórios (2009) estreado na Semana da Crítica (Festival de Cannes) e vencedor do prémio de Melhor Realização no festival Visions du Réel (Suíça). É co-fundadora da cooperativa cultural Laia, projecto orientado para a produção e investigação na área do cinema documental e experimental. hhttps://vimeo.com/monicabaptista PARTICIPANTES DO ENCONTRO ARARA — Arena de criação e outras curvaturvas ARTE CANALHA — Oficina de Máscaras Articuladas |
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Oficina de criação de máscaras e bonecos articulados em cartão e outros materiais reciclados, de preferência materiais naturais, encontrados no local: paus, folhas, ramos, pedras, raízes, etc, através da combinação de diferentes técnicas, como a pintura, desenho, recortes, monotipias, colagem, assemblage e estampagens várias. Esta oficina tem como objetivos incentivar a imaginação à criação de fantasia e transportar os participantes para uma outra dimensão lúdica e artística através de elementos simbólicos e arquétipos. Para crianças a partir dos 5 anos. Colectivo fundado em 2010. Sediado num beco do Porto, é um laboratório de actividade psicotrópica e de inflamação sónico-visual, equipado para trabalhar em serigrafia sob a mecânica autística da sua Brutemberg. É projectado como um espaço autónomo e aberto de experimentação em torno da produção de cartazes, livros e outras criações, tentando estabelecer uma relação directa, contínua e ininterrupta entre o acto de desenhar e a impressão de múltiplos. Fazem parte do ontem e do agora: Miguel Carneiro, Pedro Nora, João Alves, Luís Silva, Bruno Borges, Dayana Lucas, Daniela Duarte, Ruca Bourbon, Von Calhau, Rui Silva, Irina Pereira, Mariya Nesvyetaylo… http://www.oficina-arara.org/ |
Cantadeiras de São João do Campo
Os cantos polifónicos são um legado cultural e etnográfico ainda vivos na aldeia de Campo do Gerês (outrora São João do Campo), que foram passando
de geração em geração até aos dias de hoje. São cantos compostos por 3 ou 4 vozes diferentes. Foram registados entre outros pelo musicólogo
Michel Giacometti, que editou uma recolha etnográfica musical a nível nacional em meados do século XX. Músicas como Segadinhas ou Moda das Malhadas
estavam ligadas aos trabalhos agrícolas,onde os cantares acompanhavam o compasso destes trabalhos.
Cláudia Martinho e Luís Bittencourt
" Simbioses e Geometrias "
Uma co-criação que cruza arte sonora, performance músical e acusmática, ecologia acústica e bioacústica. Experimentam-se relações entre o som ambiental de lugares específicos da Serra do Gerês e a sonoridade de instrumentos acústicos. Enquanto Cláudia realizou gravações multi-canal com vários tipos de microfones na Mata da Albergaria, e criou paisagens sonoras para evocar o espírito dos lugares e os seres que neles habitam, Luís concebeu e construiu eco-instrumentos de percussão acústicos a partir de materiais encontrados, como água, pedras, madeira, folhas, entre outros. Nesta primeira performance electroacústica, exploram-se abordagens a características vibratórias e musicais baseadas no som dos lugares, como espectros, geometrias de ressonância e timbres, numa relação simbiótica com as paisagens sonoras espacializadas.
Cláudia Martinho vive no Campo do Gerês. Dedica-se à co-criação espacial, sonora e musical como ferramenta e ação transformadora. A sua prática experimental é orientada para as essências dos lugares, e envolve gravações de campo, arte sonora espacial, arquitetura aural, ecologia acústica, arqueo-psico-acústica, instalações e performance. As experiências resultam em incentivos a modos de escuta ativos e conscientes, para o desenvolvimento integral do ser humano em equilíbrio com os ecossistemas. É investigadora no projeto AUDIRE: guardar memórias sonoras, ICS-CECS, Universidade do Minho, doutorada em Música - Arte Sonora (Goldsmiths, University of London, 2019), mestrada em Acústica (Sorbonne Université com IRCAM, 2006) e licenciada em Arquitetura (FAUP, 2001). claudiamartinho.net Luís Bittencourt é percussionista, compositor, artista-pesquisador e produtor musical. Performer ativo em vários estilos, Bittencourt já colaborou e atuou com Lee Ranaldo, Phil Niblock, Jon Rose, Gabriel Prokofiev, David Cossin (Bang on a Can), entre outros, e tem participado de vários festivais de arte/música contemporânea e salas de concerto na Europa, Oceania, América do Norte e do Sul. Suas investigações têm trazido novos insights sobre experimentação na música para percussão e sobre a instrumentalidade de objetos sonoros. Bittencourt é pesquisador contratado no projeto Xperimus (acrónimo de “Experimentação em música na cultura portuguesa: História, contextos e práticas nos séculos XX e XXI”) e pesquisador integrado no INET-md. luisbittencourt.com/ Francisco Álvares A co-habitação com animais selvagens num mesmo território: o regresso dos grandes predadores. |
Esta palestra irá focar histórias de interacção entre os animais selvagens e as comunidades humanas que com eles convivem, usando como exemplos 3 dos maiores e mais emblemáticos predadores: o lobo, o lince e o urso. Tendo por base os resultados de estudos de investigação sobre estas espécies numa componente ecológica e etnográfica (i.e. relação com as comunidades rurais), serão abordados a sua situação actual e histórica na Peninsula Ibérica, e na região da Serra do Gerês em particular, assim como os desafios de conservação e coexistência associados à crescente presença destes predadores. Francisco Álvares é doutorado em Biologia da Conservação e actualmente investigador no CIBIO-InBio (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto). Durante os últimos vinte anos, tem desenvolvido estudos sobre o lobo Ibérico e outros carnívoros, focados numa componente ecológica, etnográfica e de conservação aplicada, estudando aspectos como a predação no gado, efeitos de actividades humanas e crenças ou práticas das comunidades locais em relação a estes predadores. É membro da Large Carnivore Initiative for Europe e do Canid Specialist Group, ambos Grupos de especialistas da IUCN, União Internacional de Conservação da Natureza. Gil Delindro "Desfolhada" |
Desfolhada é uma instalação sonora eletroacústica, que vive de uma re-interpretação do Espigueiro tradicional do Gerês, uma arquitectura que apenas existe no norte da Península Ibérica. O Canastro é um espaço tradicionalmente usado para conservar milho, local onde as comunidades rurais se juntavam para a desfolhada, uma prática que juntava cânticos, oficio e convívio num só momento de celebração comunitária. Esta obra transforma o espigueiro num lugar privilegiado de escuta e intimidade, onde materiais orgânicos locais são amplificados em tempo real pela interação directa entre microfones e matérias. A dimensão reduzida do Canastro cria uma experiência de isolamento acústico individual para cada espectador.
Gil Delindro é um artista com reconhecimento internacional nos Novos Media e Sound art, vindo a destacar-se pela investigação sobre elementos orgânicos e processos efémeros. A sua prática interdisciplinar é baseada em filme documental, instalação e pesquisa de campo, direccionada para temas como bioacústica, ecologia, antropologia e geologia. Desenvolveu várias residências em zonas Isoladas, destacam-se o Sahara “Twom 2015”, Itatiaia, Brasil “Resiliência2017”, Sibéria “Permafrost 2018”, Vietnam “BlindSignal 2019” e Glaciar do Rhone ”LaBecque 2019”. Recebeu prémios de instituições como EMARE(European Media Art), ENCAC(Rede Europeia de Criação Audiovisual), EDIGMA (prémio Semibreve), Fundação Gulbenkian, Berlin Senate for Kultur, Goethe Institute, VARC (Visual Art for Rural Communities), Berlin Masters Award e Teatro Municipal do Porto. delindro.com/ João Martins Barroso " Hipericum Androsaemuma " |
Hipericum Androsaemum. Oleo sobre tela Eu e tu ou Nós. Tintura de Hipericão e sangue de artista
Do corpo como matéria em si e objeto patológico, propõe-se aqui uma reflexão sobre a cura, relativamente à questão do acolhimento, receção, sobre o modo de operar acerca do corpo que se pretende transformar - na questão do restabelecimento da saúde ou da vida. O trabalho de João Barroso, propõe um encontro entre arte, etnobotânica, e medicina. Numa espécie de sagração e em gesto de reverência à Mãe Natureza, o autor aborda a questão da supressão de um mal físico ou psicológico através de uma vertente de consanguinidade metafórica entre o corpo humano e o universo, como fonte de recursos simbiótica capaz de levar à restauração do ser. A obra Hipericum Androsaemum, remete para um universo íntimo e pessoal, onde o objeto representado é uma componente cosmogénica interna e externa do autor. Interna, pois a planta em si é utilizada pelo artista como um recurso de tratamento fitoterapêutico, de forma a promover a saúde e o bem-estar. Externa, pois num ato de reverência e gratidão a Gaia, ou Mãe-Terra, pelos recursos e meios que gera e concebe para todos os seres, se encontra representada fisicamente através dos trabalhos aqui apresentados. Essa vertente é levada a um novo exponencial em Eu e tu ou Nós, onde essa transmutação física acontece a partir da utilização da tintura de hipericão e do sangue do artista para a sua execução, numa espécie de consubstanciação catártica externa, onde corpo e tratamento criam uma nova matéria/substancia pictórica, gerando ela própria um novo objeto num novo estado. Corpo + tratamento = cura/arte. Em Banco de Imagens - Guerra Forte é apresentado um acervo visual da relação poder medicinal e patologia, funcionando como um mapa pictórico da relação entre a dolência e a cura, entre as perturbações fisiológicas e psicológicas e a procura da saúde e do bem-estar. João Barroso (1981) é natural de Campo do Gerês, e vive entre a serra e a cidade do Porto. Licenciado em Artes Plásticas-Pintura na Escola Superior de Arte e Design frequenta o 2º ano do Mestrado de Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Realizou workshops em Técnicas Avançadas de Gravura, ESAD 2003; Fotografia, ESAD 2003; Técnicas Arcaicas de Pintura ESAD 2004; Técnicas de Escultura ESAD 2004. Menção honrosa, V Festival Internacional de Gravura de Évora 2005 com a peça “Oração”; Exposicões coletivas: “Mondes hibrides” -Luxemburgo 2014; “Festival Praga”: Guimarães 2006, Évora 2005, Braga 2002. José Fróis e Ana Marta Lopes Danças etnográficas As danças tradicionais são sempre pretexto para encontro, para criar comunidade, partilha de memórias e de palavras que se misturam por entre os movimentos e gestos da dança, despercebidos ou não, ou ditos e cantados emparelhados pelas melodias, onde navega uma herança de gente simples, que abraçou a terra e com ela conviveu. Por outro lado, revelam-se um excelente veículo de transmissão de cultura ambiental, por nos levarem para contextos próximos da natureza e cenas da vida rural. Dão-nos oportunidade para a redescoberta de valores e de uma herança comum da qual fomos separados. O repertório selecionado é de diferentes regiões do nosso País, do Minho ao Algarve. José Fróis é professor do Ensino Básico, e desenvolve há mais de dez anos, um projeto de iniciação e prática de danças tradicionais portuguesas com grupos do pré-escolar e 1.º ciclo. É membro do NEFUP (Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto) e do grupo de Pauliteiros da Scuola Mirandesa d’l Porto. Ana Marta Lopes é professora do 2.º ciclo, e fundou na sede do agrupamento com o professor José Fróis, um clube de danças para alunos do 2.º e 3.º ciclo. Frequentou workshops e eventos ligados às danças e aulas de Danças Tradicionais. Membro da Scuola Mirandesa d’l Porto, onde faz danças dos Pauliteiros de Miranda. Lara Barros Perspectiva actual da gestão dos montes comunais na Galiza, e a reconstrução da memória histórica Na Galiza, a día de hoxe, contamos cunhas 700.000 ha de montes clasificadas como veciñais en man común, máis dun 35% da superficie total de monte existente. Aínda que se trata dunha superficie máis que considerable, non deixa de supor un terzo da existente en 1850. O monte foi o soporte e o motor do complexo agrario galego ao longo da historia, e a propiedade e xestión colectiva por parte das comunidades locais foi a fórmula fundamental de gobernanza que así o fixo posible. Dábase unha simbiose agrosilvopastoril para a que a xestión colectiva do territorio era unha ferramenta fundamental. A propiedade comunal foi e é unha institución social arraigada no tempo e no territorio, é será, sen dúbida, unha oportunidade para repensarnos e (re) construír outras formas de habitar e organizar o mundo rural. Lara Barros é licenciada em Historia pela Universidade de Santiago de Compostela, mestrada em Relações Internacionais e Estudos para o Desenvolvimento pela Universidade Autónoma de Barcelona e Posgraduada em História Contemporánea, na especialidade em Sociedades Rurais, pela USC. Desenvolve a sua memória de investigação final de mestrado sobre o devenir histórico dos montes comunais na Serra de Groba. Conectada laboral e afectivamente com o mundo rural e camponês durante muitos anos através do sindicalismo agrário, desenvolveu e formou-se no acompanhamento e dinamização de grupos e de processos participativos, nos que a perspectiva de género é uma preocupação constante. Actualmente, é a impulsora de Mulime, projecto professional de investigação histórica e documental para Comunidades de Montes "Veciñais en Man Común." Xosé Antón Araúxo Comunidade de Montes do Couso: Um caso actual de baldios em autogestão, com vistas ao futuro A Comunidade de Montes do Couso caracteriza-se por ser muito ativa e empreendedora. Tem dinamizado ações de reflorestação, reconversão florestal de eucaliptos e pinheiros por florestas de folhas caducas, rentabilizando assim o território com a produção de castanhas, mel, cogumelos silvestres e cultivados, frutos silvestres do bosque, produtos transformados, entre outros. Eis uma visão de futuro para a fixação da população e a criação de uma economia sustentável. Xosé Antón Araúxo, presidente da Comunidade de Montes do Couso participará nesta conversa para explicar o processo de auto-organização desta comunidade, os seus objetivos e a forma de concretizar-se. Nuno Marques Pinto Depois do deserto as montanhas de ouro |
Este acto poético propõe uma inquietude , uma procura do desejo ilimitado e constante , procura levantar questões: Como desconstruir a exploração voluntária ? Como alcançar a fonte nascente da criatividade , o caminho do vivo , transparente na sua inocência , no seu fluxo?
O propósito é o de libertação do passado , do prévio , do estagnado , para um porvir pleno de uma nova imaginação. Esta performance não propõe mais do que a acção , do que o agir liberto , com vista à transformação radical de um mundo há muito habitado por monstruosos pesadelos. Nuno Marques Pinto é actor e performer , o seu trabalho é uma reflexão sobre a voz e a linguagem . Esbatem-se as fronteiras entre a linguagem enquanto expressão de presença e a linguagem enquanto material de fala pré- fabricada , pré - gravada. O ritmo da voz é arranjado segundo segundo padrões formais musicais ou arquitectónicos - repetição , distorção , sobreposição , ruído , gritos. - para uma música de várias línguas , polifónica , transformando o acto da fala em acontecimento, em situação, em corpo falante. Rita Roquette - Bloom Sativum Passeio de reconhecimento botânico Medicina Popular: a dimensão sagrada das plantas, e a memória oral dos seus usos |
Rita Roquette - Boom Sativum: bem vindos ao lugar do florescer cultivado, ao entusiasmo pela flora, pelo solo e por uma vida simples que brota do espontâneo.
Aqui cultivam-se ervas daninhas, bactérias e todas as formas de vida de modo a valorizar a sua insistência na conjunta evolução com o ser humano.As palavras que chegam vêm do rodopio das Estações, do entre a inspiração do campo, dos seus frutos e a expiração na Oficina e nos tachos.É uma forma de agradecimento pela abundância desta Terra. Bloom Sativum Rui Canário O potencial educativo das aldeias como espaços de aprendizagem Vivemos hoje em sociedades urbanas e escolarizadas que enfrentam desafios de civilização que passam pelo agravamento das desigualdades, pela massificação da vida social e por problemas de sobrevivência face aos custos ambientais dramáticos que configuram aquilo que alguém definiu como um “suicídio coletivo”. Nesta comunicação, em contracorrente às propostas “desenvolvimentistas”, propõe-se reequacionar o futuro da educação no mundo rural com base numa crítica radical à “escolarização” e ao ideal de “crescimento económico”. Tendo como referência experiências educativas realizadas em Portugal depois dos anos 80 (“Projeto ECO” e “Projeto das Escolas Rurais”) recuperam-se processos de intervenção baseados nas características singulares e nos recursos disponíveis em contexto rural. Essas experiências convidam-nos a olhar o mundo rural não como um problema de “atraso”, mas sim como uma alternativa em termos de novas maneiras de articular o viver, o trabalhar e o aprender. Rui Canário é Professor Catedrático, aposentado do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Coordenou a Unidade de Investigação e fundou a Revista “Sísifo” (2005-2010). Licenciado em História, doutorou-se em ciências da educação (1987) na Universidade de Bordéus II e em 2004 obteve o grau de Agregado em Sociologia da Educação. Foi professor do Ensino Básico (1972 -1982). Na Escola Superior de Educação de Portalegre, trabalhou na formação inicial e contínua de professores (1985-1990) e fundou a revista “Aprender”. Foi o coordenador do Projeto ECO- Arronches e Consultor Científico do Projeto das Escolas Rurais. Dos livros publicados, destaque para: O que é a escola? Um “olhar sociológico” (2005); Educação de Adultos. Um campo e uma problemática (2001); Uma escola em mudança com a comunidade (1994). Mais documentação em breve... |